Anarcocapitalismo: vamos construir feudos!

Publicado: 20 de dezembro de 2016 por Plínio em Anarquismo, Economia
Tags:, , ,

“Que pretende o sistema? Manter, acima de tudo, a feudalidade capitalista no gozo dos seus direitos; assegurar e aumentar a preponderância do capital sobre o trabalho; reforçar, se possível, a classe parasita, proporcionando-lhe em toda a parte, com a ajuda dos cargos públicos, criaturas segundo as necessidades de recrutamento; reconstituir pouco a pouco e enobrecer a grande propriedade.”
Pierre-Joseph Proudhon

estado

Tem algum tempo que questionamos algumas incoerências daqueles que fazem culto ao Capital. Já abordamos que em um modelo sem intervenção estatal a economia tende a favorecer o monopólio, ao contrário que alguns ultraliberais dizem . Também que não existe Estado menos intervencionista e mais intervencionista. E também como o Anarquismo lida com as questões da Propriedade. Logo, percebe que já tratamos de alguns assuntos a respeito e já dá para ter ideia sobre a posição anarquista sobre estas questões.

O feudalismo fora um sistema firmado na Propriedade Privada, com a necessidade de maior segurança, na economia ainda predominava a agricultura e do trabalho servil. Para melhor exploração dos recursos, os proprietários, chamados de suseranos, concediam terras aos seus vassalos, que prestava serviços e fidelidade ao seu suserano. Já o suserano, era responsável pela proteção das terras, que claro, eram suas. Os proprietários exerciam o papel do Estado, cabiam a eles o papel de todos os poderes: econômico, jurídico, político.

Analisada a estrutura de uma sociedade feudal, podemos agora nos ater ao tema em si: anarcocapitalismo. Os anarcocapitalistas defendem a eliminação completa do Estado, para que a sociedade se organize através da propriedade privada. Sendo assim toda a relação humana, produção, trabalho, regulamentação, tudo seria pautado no direito natural, e fortemente estruturado através pela propriedade.

Ou seja, os anarcocapitalistas não lutam pelo fim do Estado, lutam para o estabelecimento de um novo Estado, firmado na Propriedade Privada. E claro que há como recriar Estado em um ambiente onde outrora um Estado havia deturpado, como previsto por Malatesta. Basta analisar as condições:

“A propriedade individual e o poder político são dois elos de uma mesma corrente que esmaga a humanidade; são como dois fios da lâmina do punhal de um assassino. É impossível libertar-se de um se não se liberta também do outro. Se abolirem a propriedade individual sem abolir o Estado, ao que ela se reconstituirá graças aos governos. Se abolirem o governo sem abolir a propriedade individual, os proprietários reconstituirão o governo.”
Por Errico Malatesta em ‘O Estado Socialista’

Derrubaram o Estado e um latifundiário que possua um grande território em terra chega a conclusão que a terra por si só não produz nada, então ter um pouco de terra ou ter muita terra não faz muita diferença. Este era exatamente o dilema dos suseranos.

Mas com muita terra pode se beneficiar com isso. Então deixa aberto a pessoas irem trabalhar na propriedade para que possam se sustentar. Pode chama-los de vassalos, se assim desejar. Ou se quiser algo mais politicamente correto, inquilinos, colaboradores, ou arrendatários.

Claro que é necessário estabelecer regras para que estas pessoas possam permanecer na propriedade de forma organizada. Então o proprietário, ou o suserano, cria leis. Nada mais legítimo do que ele criar as leis, já que é o dono, é ele quem dita as regras da propriedade. Usei a palavra “ditar”, pois ela é fundamental para esta percepção.

Nestas regras leis também algumas taxas a se cobrar do povo que vai produzir na propriedade. Afinal, a propriedade não lhes pertence, há uma concessão, logo nada mais belo e moral cobrar por isso, já que o povo está se beneficiando dela. Não existe filantropia, nem feudo grátis.

Mas e se as pessoas obedecerem as regras estabelecidas pelo suserano, como ele as fará valer? Ah sim, formar uma escolta. Contrata pessoas brutas que não querem trabalhar na propriedade em si, mas podem trabalhar diretamente para o suserano, fazendo as com que o povo siga as regras.

Pronto! Aí está o feudo, ops! O ancapistão. A necessidade de muros cercando fica a critério de cada proprietário. Pode tratar como algo mais decorativo.

Chegamos a conclusão que o que chamam de anarcocapitalismo é apenas a perpetuação do privilégio. Uma desculpa como muito bem descrito por Kevin Carson em ‘Estudos em Economia Política Mutualista’:

“Aparentemente, a receita para um “livre mercado”, da forma em que o libertário vulgar médio usa o termo, é como se segue: 1) primeiro roube a terra das classes produtivas por decreto estatal e as transforme em trabalhadores assalariados; 2) aí, através de terrorismo estatal, impeça-os de se movimentar em buscar de salários mais altos ou de se organizar para aumentar sua força de barganha; 3) finalmente, convença-os de que seus salários de subsistência refletem a produtividade marginal do trabalho em um “livre-mercado”.”

Este discurso visa exclusivamente para manter a classe trabalhadora submissa aos proprietários.

comentários
  1. gisellealves disse:

    Caramba, que texto!!

    Curtir

  2. Raphael disse:

    Você basicamente descreveu países como Cuba… LOL

    Curtir

  3. Abraão Rodrigues disse:

    Claro que sim, todas as pessoas seriam miseráveis e se submeteriam a qualquer um que oferece um pedaço de terra. É claro, todos os donos de terras se organizariam em uma sociedade secreta a fim de que nenhum oferece um bom emprego para as pessoas. Claro que sim, claro que sim, óbvio.

    Curtir

  4. André disse:

    Anarquista não precisa trabalhar para terceiros. A fronteira é livre pra o contrabando (comércio legal marginalizado pelo Estado). Barraca de dog, rádio, crack, cortador de unha, sorvete, bar, restaurante… Legal e sem imposto.
    Na boa ser operário só se valer muito a pena. Naturalmente valerá, ninguém cresce sozinho e sem estipular salário mínimo ele é um bom salário porque empregado que tem opção não se escraviza. Patrão que paga pouco perde mão de obra para a liberdade da rua.
    Sr Feudais dependiam do Estado. O delegado o exército e a igreja baixavam a cabeça para eles. Não tinham funcionários tinham escravos (branco, negro, tanto faz, o que ele quisesse). Eram os patenteados coroné. Arranjasse um trabalho melhor pra ver.
    A burguesia que chora que gastos de mais tem razão. Metade do seu salário é imposto, a burocracia custa dinheiro, regulamentação estatal é cara e desnecessária, amigo de político quebra qualquer concorrência, fiscal inventa moda pra extorquir. Não estou puxando saco, patrão que se foda se pagar mal. Sem Estado a rua está aí tudo é mais fácil. Qualquer um que quisesse hoje empreenderia sem o Estado.
    Contrabando é a palavra usada para justificar subsídio pra bacana. Na China é mais barato, então é da China que nós vamos comprar. Você não compra da China e o dinheiro que iria economizar, vai para o “fabricante nacional” (bela merda de proteção ao empresário menos eficiente).
    Feudo era escravidão, e o fim da escravidão já foi como é moda dizer “utopia”.

    Curtido por 1 pessoa

    • Gilmar Mendes disse:

      Cara, gostei do seu último argumento ” Feudo era escravidão, e o fim da escravidão já foi como é moda dizer utopia. ” A questão é você tem algum fato para embasar essa afirmação ou é só um argumento vazio para justificar sua ideologia?

      Falando sério, e coloque em mim o rótulo que quiser, mas que vantangem os extratos mais baixos da sociedade teriam em apoiar esse tipo de regime, movimento, sistema organização social ?

      Desculpe minha imensa ignorância, mas vejo nesso no sistema “ancap” apenas o desejo das elites de manter e ampliar seus privilégios (que já não são poucos, diga se passagem) sem ter que prestar contas a ninguém.

      Um outro ponto é que

      Curtir

Deixe um comentário